segunda-feira, 29 de julho de 2013

O HOMEM DE AÇO, de Zack Snyder

"Man Of Steel" - EUA - 2013 - HQ/Sci-fi/Ação - 143min. Roteiro de David S. Goyer e Christopher Nolan. Com Henry Cavill, Amy Adams, Russel Crowe, Kevin Costner, Diane Lane, Michael Shannon, Laurence Fishburne, Richard Schiff, Christopher Meloni, Ayelet Zurer.

MISSÃO IMPOSSÍVEL
Falta de objetividade e emoção minam mais uma tentativa de criar um filme com o Homem de Aço sem Christopher Reeve e Richard Donner

Na resenha de O Espetacular Homem-Aranha, destilei toda minha rabugice sobre a terrível moda das "trilogias", a ideia maléfica de se conceber um filme raso com a intenção de torná-lo complexo e mais divertido em suas prováveis continuações.

Eis que nesse aguardado O Homem de Aço, a Warner sentou-se à mesa com Zack Snyder, Chris Nolan e David Goyer e decidiu que Henry Cavill não seria submetido às comparações inevitáveis com o ícone Christopher Reeve, pois não era necessário cobrar do rapaz algo que ele poderia fazer apenas no segundo e terceiro filmes, já com a simpatia de público e crítica após seu desempenho sob a capa do Superman. Assim, sua missão como ator ficou fácil, pois diferente do inesquecível Christopher Reeve e do esforçado Brandon Routh, Cavill não precisou se desdobrar entre Superman/Clark Kent, já que o personagem foi capturado em um momento de indefinição em sua vida, onde não sabia se seria herói, vilão, repórter.

Mas não é apenas esse "detalhe" que prejudica a mais nova tentativa de repaginar o septuagenário super-herói.

Intimidado com a presença do produtor e co-roteirista Christopher Nolan, Zack Snyder dotou seu filme com toda a verborragia e didática características do diretor de O Cavaleiro das Trevas, mas sem o mesmo talento para costurar cenas que seduzam a audiência e evite que ela sinta... sono.

Preocupados com a redundância de mostrar a infância e adolescência do herói mas sabedores da necessidade de tal providência por causa do tom solene que decidiram adotar para o filme, Snyder e Nolan depositaram na montagem de David Brenner a esperança de inserir momentos importantes em flashback durante a ação, evitando assim um longo e inútil prólogo como em (de novo) O Espetacular Homem-Aranha. Porém, o tiro saiu pela culatra, já que as cenas em flashback arrastaram a ação, não emocionaram (exceto a primeira, com Diane Lane conversando com o pequeno Clark através de uma porta trancada por dentro), deixaram claro a sub-utilização de Kevin Costner como Jonathan Kent e, o pior, parece que foram dirigidas por outra pessoa. Apesar da longa duração do filme, a impressão é de soluções encontradas às pressas. Quando Kal-El sai da fortaleza com o uniforme do herói só dá para pensar "tudo isso pra isso?".

Filme de Ação?

Como todo filme de super-herói que se preze, deve-se haver um capricho especial nas cenas de ação (estamos falando de um filme que custou US$ 250 milhões). Nisso, Snyder acertou. As cenas de destruição e pancadaria rivalizam com as tomadas mais histéricas de Michael Bay, porém, com nitidez suficiente para que se entenda o que está rolando na tela. Assim, podemos ver Superman e o vilão Zod trocando sopapos como todo fan boy sonhava e prédios desmoronando com realismo absurdo.

Por causa disso, chegamos ao defeito mais claro, o que de fato derruba o filme e suas pretensões de ser um entretenimento além das aventuras fantasiosas e pueris que facilmente se pode produzir em um filme desse gênero: não é possível criar um espetáculo calcado no realismo e nos personagens se a platéia não se identificar com aqueles que correm perigo em cena. Assim, um elenco que conta com Russel Crowe, Kevin Costner, Amy Adams e Laurence Fishburne vira um desfile vazio de estrelas que, mesmo esforçados em seus papéis, não conseguem prender a platéia pela emoção. Superman, invulnerável e cheio de poderes, não despertaria mesmo maiores temores. Nem mesmo os nada sutis paralelos entre Superman e Jesus Cristo conseguem cativar os espectadores.

Plot

A trama é esperta. Calcada em livre-arbítrio e na importância básica das escolhas pessoais, começa com Jor-El decidindo ter um filho por meios naturais. Em Krypton, cada criança é concebida por meios artificiais e nasce com seu destino traçado por um codex. Então, Joãozinho cresce sabendo que será pedreiro e Zezinho, advogado. O General Zod (Michael Channon, fazendo valer seu cachê) foi criado para ser um militar, um homem de guerra responsável por resguardar as regras do planeta - a manutenção do codex entre elas. Quando Jor-El consegue se apoderar do troço e despachar seu filho para a Terra sem "codificação", Zod se impõe à missão de corrigir o "erro", seja quando for e custe o que custar. No fim, a trama se amarra de forma bacana tanto na história de Clark Kent quanto no desfecho do filme, onde ele toma uma decisão surpreendente diante de uma escolha que se impõe (sem sutilezas, por sinal). Pena que a cena pode ser enfraquecida por toda destruição e (obviamente mas nunca graficamente) as milhares de mortes causadas no longo combate dos super-seres.

A propósito, essa cena final é responsável pelo único momento "wow!" do filme. Não há nada mais que nos faça arregalar os olhos ao longo da projeção.

Bem sucedido em filmes nos quais tomou emprestada a visão de outros (300 e Watchmen), me perguntei na resenha de Sucher Punch - Mundo Surreal se Zack Snyder se sairia bem em O Homem de Aço, outro filme no qual ele não contaria com os storyboards de Frank Miller e Dave Gibbons.

A resposta é "não".

NOTA: 

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