terça-feira, 17 de agosto de 2010

A ORIGEM, de Christopher Nolan ("Inception" - EUA - 2010 - FC/ação/drama, 148min). Roteiro: Christopher Nolan. Com Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page, Ken Watanabe, Tom Hardy, Cillian Murphy, Marion Cotillard, Michael Caine.

A obra de arte mais instigante é aquela na qual a interpretação cabe à quem olha, independente da idéia original do artista. E o artista mais completo é o que permite à visão do seu público o complemento da idéia inicial. Christopher Nolan é um artista, desses singulares que forjam obras de arte em sua profissão, como Amnésia, Insônia, O Grande Truque e, putz, O Cavaleiro das Trevas. Em todas essas realizações, seus protagonistas encaram dilemas morais. Em nenhum deles, a conclusão é imposta por Nolan.

Não poderia ser diferente no excepcional A Origem, onde um enredo básico de "filme sobre roubo" se torna uma verdadeira epopéia pela mente do protagonista - para ser mais preciso, pelo subconsciente, a área inatingível e incontrolável onde é armazenada a matéria dos sonhos.

A trama: Dom Cobb (DiCaprio, em mais uma grande atuação) é o líder de uma equipe que rouba informações do subconsciente alheio, mediante pomposos honorários. É a velha espionagem corporativa, versão Matrix. Afastado dos EUA e dos seus filhos por motivo que ninguém no mundo deve revelar a quem não viu o filme, Cobb aceita uma encomenda um pouco mais complexa: plantar uma idéia na mente de outrem (a tal Inception do título original), para receber o direito de retornar aos seus pequenos. Junta-se ao quadro a consciência de Cobb, em frangalhos por causa de uma tragédia pessoal - nada clichê, diga-se de passagem, pois se mostra essencial à rica narrativa que será apresentada - e os contratempos da própria tarefa. Falar mais que isso é canalhice.

Me impressiona muito a destreza de Nolan em dar importância a cada um dos personagens que farão o filme rodar. Ele lota a tela com eles, concede papéis importantíssimos a cada um e todos são essenciais para que o roteiro atinja seu objetivo (lembra do Bruce Wayne, Batman, Duas-Caras, Coringa, Comissário Gordon?). Em A Origem, todo mundo em cena é primordial. Inclusive Michael Caine, que fez pouco mais que uma ponta no filme. A escolha dos atores é outra prova do talento de Nolan. Leo DiCaprio, Ellen Page (nossos olhos e ouvidos no filme, é a "arquiteta" dos sonhos, chamada não por acaso de Ariadne), Tom Hardy (duvido que sua carreira fique na mesma daqui pra frente), Joseph Gordon-Levitt (grande ator em papel mais físico que o habitual), Marion Cotillard (tire os olhos da tela se conseguir), Ken Watanabe (excelente), Cillian Murphy (no ponto) e até o monstro Tom Berenger. Atualmente, não consigo traçar paralelos ao trabalho de Nolan nesse aspecto.

Todo o filme se passa no subconsciente alheio, e toda a ação está sujeita a este ambiente. Isso dá a liberdade que o todo diretor "sonha", correto? Mas este realizador não se limita ao óbvio. Não investe nos clichês dos sonhos ou pesadelos. Cria um verdadeiro mundo paralelo, tumultuado pela história do protagonista. Jogue uma pedra no lago...

Christopher Nolan é um realizador brilhante. E todos os seus filmes são brilhantes. Mas neste, em particular, ele entrou para o hall dos grandes artistas: aquele que leva o mesmo visitante pela segunda vez à exposição para confirmar se teve a impressão certa sobre obra à primeira vista.

Neste caso, amigo, talvez uma terceira visita seja necessária.


NOTA: A+

terça-feira, 3 de agosto de 2010

MOTORADIO SET LIST: TOP 11 - TERÇA-FEIRA

Volta às aulas. Em São Paulo, isso tem um significado: trânsito infernal. Ainda bem que o modo randômico do meu player também estava infernal...

01 - "Use Somebody" - Kings Of Leon (Only By The Night, 2008) - Rock puro, feito por roqueiros esquisitos. Mesmo com essas credenciais, é uma canção linda e... pop.

02 - "Nutshell" - Alice In Chains (Jar Of Flies, 1993) - O vocal inigualável do finado Layne Staley em um duelo de foice com o violão macabro de Jerry Cantrell.

03 - "Battle For The Sun" - Placebo (Battle For The Sun, 2009) - O Placebo não tem disco ruim. Essa canção é a melhor de um dos melhores plays de 2009.

04 - "Maver" - Stone Temple Pilots (Stone Temple Pilots, 2010) - O rock dos anos 90 - digo de novo, é meu preferido - está muito vivo. E os Pilots colocaram essa bela canção em seu disco de retorno.

05 - "Working Class Hero" - John Lennon (John Lennon/Plastic Ono Band, 1970) - Vocal, violão, melodia quase pedestre e uma letra contundente. O beatle mais genial precisava de mais em sua estréia solo?

06 - "I Believe" - Bon Jovi (Keep The Faith, 1992) - Eu gosto de Bon Jovi, ué! Esse som abre o excelente Keep The Faith com um hard rock de andamento diferente (para os padrões da banda) e um vocal variado (para os padrões do Jon).

07 - "It's Late" - Queen (News Of The World, 1977) - O riff de Brian May já faria da canção algo sensacional. Mas ainda coube uma melodia linda e o vocal sobrenatural de Freddie Mercury. Virou lenda.

08 - "Black Dog - live '72" - Led Zeppelin (How the West Was Won, 2003) - Clássico clichê, eu sei. Mas vc já ouviu essa versão ao vivo, gravada nos anos 70 em Los Angeles?

09 - "Shadow Of The Sea" - Screaming Trees (Ocean Of Confusion, 2005) - A guitarra grunge a serviço do vocal soturno e enfumaçado de Mark Lannegan!

10 - "Supernova" - Skank (Cosmotron, 2003) - Esse disco foi uma puta guinada musical na carreira dessa bandinha prioritariamente pop. O disco é muito bom, nem de longe lembra o Skank de Garota Nacional. Escuta a batera beatle desse som! Se o play fosse de alguma banda inglesa qualquer, viraria o hype da época.

11 - "Rain" - Creed (Full Circle, 2010) - Simplesmente não canso de ouvir essa música. "I feel it's gonna rain like this for days..."

ESQUADRÃO CLASSE A, de Joe Carnahan ("The A-Team" - EUA - 2010 - ação - 117min). Roteiro: Joe Carnahan e Brian Bloom. Com Liam Neeson, Bradley Cooper, Quinton 'Rampage' Jackson, Sharlto Copley, Patrick Wilson, Jessica Biel, Gerald McRaney, Brian Bloom. **=====** OS PERDEDORES, de Sylvain White ("The Losers" - EUA - 2010 - ação - 97min). Roteiro: Peter Berg e James Vanderbilt, baseado na HQ da DC/Vertigo. Com Jeffrey Dean Morgan, Zoe Saldana, Chris Evans, Jason Patric, Idris Elba, Columbus Short.

O problema de Esquadrão Classe A, o seriado, é que ele deixa de ser relevante para um ser humano tão logo este complete 15 anos de idade. Sim, aquela balela de explodir tudo sem que exista uma gota de sangue em cena tem prazo de validade. E não se trata de cinismo; não se via um soco, uma luta, apesar da força e carisma de Mr. T - o famoso B.A. Baracus. Pois bem, Esquadrão Classe A, o filme, também não investe no sangue - o projeto caro precisa lucrar, e lucro no cinema só é possível quando milhares de traseiros adolescentes estão nas poltronas. O filme foi caro, tem Liam Neeson politicamente correto, cenas de ação absurdas (eu gosto muito!) e protagonistas entrosados. Por que não é o filme de ação do ano? Bem, há uma série de explicações: a fórmula desgastou. Faltou culhão. B.A. está sorridente. Explicar o plano em flash back durante sua execução é um recurso batido. E o pecado capital: subestimou a presença de Jessica Biel, mostrando a garota sempre em trajes militares e de cabelo preso. Nhé.




Mas aí sim, fomos surpreendidos novamente! Os Perdedores, também lançado esse ano (ah, o timing de Hollywood...) tem a mesma idéia: equipe é traída, caçada, precisa arrebentar com o vilão e provar sua inocência. O cuidado nas escolhas determinou toda a diferença na qualidade: Os Perdedores é baseado em uma HQ cool (não em um seriado chato); tem cenas de ação menos exageradas e mais bacanas; é cínico, sensual, sanguinário e interessante; traz Jeffrey Dean Morgan se divertindo como um veterano (ok, o cara é veterano, mas só fez sucesso no cinema recentemente) e Jason Patric, o aborrecido Jason Patric, surpreendente como o vilão mais divertido da temporada. Mais? Chris Evans não está irritante e Zöe Saldana passa longe dos trajes militares.

Na comparação, Esquadrão Classe A é que sai perdedor.



ESQUADRÃO CLASSE A: NOTA D
OS PERDEDORES: NOTA B