quinta-feira, 27 de agosto de 2015

50%, de Jonathan Levine ("50/50" - EUA - 2011) Roteiro: Will Reiser. Com Joseph Gordon-Levitt, Seth Rogen, Anna Kendrick, Bryce Dallas Howard, Angelica Houston, Philip Baker Hall

MEIO A MEIO
Filme trata assunto delicado, emociona sem pieguice e diverte sem ofensas

Adam (Gordon-Levitt) está fazendo sua habitual corrida quando observa, em um cruzamento viário, o semáforo vermelho para pedestres. Mesmo sem nenhum veículo na via, o prudente rapaz aguarda o sinal abrir para que continue a correr. Na cena seguinte, vemos a preocupação de Adam diante da necessidade de utilizar um xampu diferente do que está habituado.

Mais dez minutos de filme, Adam será diagnosticado com uma espécie rara de câncer e passará a viver uma realidade onde a prudência no cruzamento da via ou o perfume do xampu são irrelevantes.

Embora seja um filme com embalagem leve, de elenco central jovem e Seth Rogen fazendo o de sempre, é impossível não se sensibilizar com a condição de Adam e sua dificuldade em levar uma vida normal.

Filmes sobre personagens doentes não precisam ser apelativos, e este não é. A questão aqui é o tema. No intervalo de três anos, vi essa doença devastadora levar dois membros imortais da minha família: mãe e sogra. No curto prazo mencionado, dois pilares das nossas vidas foram demolidos como que construídos com lego. A identificação com a narrativa veio na forma como tratamos o assunto antes que os organismos dos nossos entes queridos não suportassem mais: com carinho, com amor, mostrando presença mesmo estando longe, sendo realistas sem entregar os pontos. Parece imprescindível que seu ânimo esteja, no mínimo, cinco graus acima do da pessoa doente. Ela passa por tratamentos pesados que dificulta usufruir os maiores prazeres da vida, como comer ou fazer sexo. E tudo que ela precisa, sem pedir (ou sem saber) é de cumplicidade de vencedor, mesmo ciente da complexidade da situação.

Ainda que não consiga fugir dos estereótipos da mãe que sufoca e da namorada impressionável, o filme de Jonathan Levine procura destacar a atuação das pessoas que cercam o doente como profetas da saúde, e não reféns da doença. Não por acaso, a personagem mais complexa fica por conta de Anna Kendrick, que faz a jovem terapeuta de Adam. Ainda em treinamento, ela não consegue parar de vê-lo como um morto vivo e procura tratá-lo com técnicas genéricas. Adam, por sua vez, enxerga na moça um ser humano que também precisa de ajuda.


Como deve ser na vida, a narrativa não é sobre tragédias. É sobre a necessidade de conexão com as pessoas que amamos e a importância delas em momentos delicados. Como diz o título original, Fifty/Fifty: 50% de chance de morrer. Ou 50% de chance de viver tendo o prazer de não se arriscar no semáforo fechado. E de se preocupar com o tipo de xampu que lava seu cabelo.


NOTA: