domingo, 12 de setembro de 2010

OS MERCENÁRIOS, de Sylvester Stallone ("The Expendebles" - EUA - 2010 - ação, 103min). Roteiro: Sylvester Stallone e Dave Callaham. Com Sylvester Stallone, Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgreen, Randy Couture, Eric Roberts, Gisele Itié, Steve Austin, Terry Crews, Mickey Rourke, Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger.

É triste imaginar que muitos entrarão no cinema para assistir Os Mercenários esperando um roteiro originalíssimo, cheio de diálogos espertos, motivação política, ação e lutas exaustivamente coreografadas, atores em cabos, heróis realistas como Jason Bourne, atuações convincentes e efeitos especiais de última geração. Quem tiver esse tipo de expectativa, certamente não prestou atenção à escalação do elenco e ao plot do longa.
E será uma pena; tal expectativa o impedirá de apreciar a coragem de um artista em expor sua real natureza e homenagear suas origens. Sim, porque se Sly Stallone iniciou sua carreira com duas indicações ao Oscar por Rocky, O Lutador (ator e roteiro), foi como herói de ação que conseguiu sua fama e fortuna, além de milhões de fãs universo afora. Relaxe e curta os closes nos rostos enrugados dos musculosos em cena, closes estes que além de mostrar o contraste entre os "pés-de-galinha" e os músculos cultivados em anos de maromba e substâncias duvidosas, também super-dimensionam aqueles ídolos do cinema de ação; aprecie o encontro titânico entre os três maiores astros de ação que este planeta já viu: Sly, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger, em uma cena que, se curta demais para o tamanho do trio, expõe com bom humor o que é uma amizade de muitos anos (além de nos oferecer os melhores diálogos e piadas do filme).

Sly expõe a lembrança de uma época na qual os socos eram mais brutais e menos estilizados, as explosões eram reais e não criadas em computador, a        motivação para o herói era nada mais que a donzela em perigo ou a emoção da vingança. E mesmo que o enredo leve os brutamontes para um paiseco de terceiro mundo com intuito de enfrentar o tirano local, não há nenhuma motivação política. O personagem de Sly vai ao tal país para salvar a garota, não para "libertar o povo". Sly apanha e seus companheiros apanham, exceto Jason Statham, o único representante do "novo" cinema de ação. Curioso observar que seu personagem é o de maior destaque no filme, tem até um arco romântico (que vai se revelar mera desculpa para uma boa cena de luta). Statham é também um dos poucos, hoje em dia, que se pode chamar de "herói de ação", já que The Rock e Vin Diesel estão cada vez mais buscando a versatilidade, aceitando papéis em dramas e comédias.

Pena que Stallone deixou de explorar o carisma e habilidade de Jet Li, relegado a um personagem quase cômico, sendo ridicularizado o tempo todo por sua estatura e pedindo aumento de salário. Creio que Sly incluiu no filme algum tipo de piada interna, pois Li e Statham são os maiores cachês da produção. Incrivelmente, o longa também carece de um maior número de cenas de ação nervosas, explosões maiores, lutas com edição mais clara.

Com relação ao "elenco-porrada", faltaram apenas Van Damme e Steven Seagal para a nostalgia ficar completa. O primeiro não aceitou o papel porque "não queria fazer mais um caça-níquel com um personagem unidimensional" (em seguida, fez um papel quase coadjuvante no pavoroso Soldado Universal 3). Acho que Seagal nem foi convidado, mas está no elenco da outra tosqueira curiosa do ano, Machete.

Anacrônico de corpo e alma, Os Mercenários diverte muito e mostra que Stallone sabe como realizar suas fantasias na telona. O produto final é cheio de personalidade, cumpre todas as promessas de pré-produção. Ou alguém duvida de que cada idéia ultrapassada foi colocada no filme de propósito?


NOTA: B

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