terça-feira, 28 de setembro de 2010

ROBIN HOOD, de Ridley Scott

"Robin Hood" - EUA - 2010 - Épico/Ação - 140min. Roteiro de Brian Helgeland. Com Russell Crowe, Cate Blanchett, Max Von Sydow, William Hurt, Mark Strong, Oscar Isaac, Danny Huston, Kevin Durand.

A crítica jogou muita pedra nessa interessante abordagem sobre o herói fora-da-lei de Nothingham. Exagerou.

Ok, também não sei qual a necessidade de existir mais um filme sobre Robin Hood (para mim, a versão de 1991, estrelada por Kevin Costner, é a definitiva - desculpe, Errol Flynn), mas já que Scott se propôs a fazer, que tente percorrer um caminho original. E ele tentou.

Pena que, para Scott, original é chamar Russell Crowe com o mesmo penteado de Gladiador, utilizar as mesmas florestas deste filme e de Cruzada, convocar a mesma Cate Blanchett masculinizada de outros filmes, utilizar Mark Strong como vilão (clichê!) e dar a Crowe as mesmas falas de Gladiador e de Cruzada (Orlando Bloom fez as vezes na ocasião). Por causa deste parágrafo, não sei mesmo porque o mundo precisava de outra versão.

Não precisava; mas Scott fez, e apesar do parágrafo acima, criou um filme divertido, com um herói para torcer. Russell Crowe é um puta ator, ainda que insista em ser Maximus quando é Robin Hood. Culpa de Scott, que escala o mesmo ator para uma história semelhante (ambos mudam de identidade por conta de adversos quetais e buscam a redenção). O carisma de Crowe compensa a falha. Já para Cate Blanchett, preciso de uma explicação. Por que escalar uma atriz sem doçura alguma? Ponto fraco de O Curioso Caso de Benjamim Button, Cate especializou-se na heroína forte (Elizabeth) e não consegue se desvencilhar dela. Precisa fazer um reset, urgente.

A história é um prequel, e isso é interessante. Por que Robin Longstride tornou-se um fora-da-lei, um ladrão que distribui o produto do seu roubo? Está contado aqui. E é bacana.

Pena que o grande Ridley Scott tenha se especializado em se repetir. Tomara que ele abandone de vez os "épicos-com-batalhas-na-floresta" e faça mais filmes díspares, como O Gângster e Falcão Negro Em Perigo. Auto-indulgência destrói carreiras.


NOTA: C+

terça-feira, 14 de setembro de 2010

ILHA DO MEDO, de Martin Scorsese ("Shutter Island" - EUA - 2010 - suspense/drama, 138min). Roteiro: Laeta Kalogridis, baseado no romance de Dennis Lehane. Com Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max Von Sidow, Michelle Williams, Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Jackie Earle Haley, Ted Levine, John Carroll Lynch, Elias Koteas.

"Someone is missing". A chamada do cartaz é genial.

Genial como o cineasta que realizou esta obra-prima, Martin Scorsese. Vc, que vai assistir o longa, bem-vindo a mais uma aula de cinema.

Ao contar uma história complexa - detetivesca, sendo os espectadores os responsáveis por seguir e desvendar as pistas - Scorsese escolheu o caminho nada óbvio do terror psicológico para descrever a investigação de Teddy Daniels (DiCaprio), agente do FBI encarregado do desaparecimento de paciente de uma instituição prisional para doentes mentais, localizada em uma ilha remota. Mas Daniels, veterano da 2ª guerra e viúvo trágico, possui tormentos suficientes para tornar a tarefa mais difícil à medida em conhece melhor a intituição, interrogando pacientes e funcionários do local.

Mais um filme de roteiro brilhante, realizado por elenco sintonizado com as idéias do diretor e cuja sinopse precisa ser revelada com cuidado. DiCaprio continua escolhendo muito bem em que filme trabalhar (além deste, a lista de seus últimos projetos inclui Os Infiltrados e A Origem, dois longas sensacionais) e entrega mais uma atuação impecável. Ruffalo tem nuances e detalhes que é impossível revelar sem falar demais. Aliás, os cuidados com que diretor e elenco espalham nuances importantes ao longo da projeção chega a ser tocante, pois percebemos a dedicação daqueles profissionais (Scorsese em destaque) para entregar um produto não menos que incrível aos pagantes de ingressos.

E tem cenas memoráveis; flashbacks fotografados com iluminação abundante, cores bem definidas (observe o amarelo do vestido da esposa de Daniels), e fotografia quase monocromática para as cenas bucólicas do presente, passando pela claustrofobia da instituição em si, mesmo em salas suntuosas (diga-se, auxiliado por um trabalho fantástico do diretor de arte, Dante Ferretti).

Novamente, seremos convidados a tirar nossas conclusões (a arte nos dá esse direito), mas diferente de A Origem, até os momentos que parecem existir para nos confundir soam muito esclarecedores ao final da saga. E podemos concluir que até o que parece imponderável depende unicamente das nossas escolhas.

NOTA: A

domingo, 12 de setembro de 2010

OS MERCENÁRIOS, de Sylvester Stallone ("The Expendebles" - EUA - 2010 - ação, 103min). Roteiro: Sylvester Stallone e Dave Callaham. Com Sylvester Stallone, Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgreen, Randy Couture, Eric Roberts, Gisele Itié, Steve Austin, Terry Crews, Mickey Rourke, Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger.

É triste imaginar que muitos entrarão no cinema para assistir Os Mercenários esperando um roteiro originalíssimo, cheio de diálogos espertos, motivação política, ação e lutas exaustivamente coreografadas, atores em cabos, heróis realistas como Jason Bourne, atuações convincentes e efeitos especiais de última geração. Quem tiver esse tipo de expectativa, certamente não prestou atenção à escalação do elenco e ao plot do longa.
E será uma pena; tal expectativa o impedirá de apreciar a coragem de um artista em expor sua real natureza e homenagear suas origens. Sim, porque se Sly Stallone iniciou sua carreira com duas indicações ao Oscar por Rocky, O Lutador (ator e roteiro), foi como herói de ação que conseguiu sua fama e fortuna, além de milhões de fãs universo afora. Relaxe e curta os closes nos rostos enrugados dos musculosos em cena, closes estes que além de mostrar o contraste entre os "pés-de-galinha" e os músculos cultivados em anos de maromba e substâncias duvidosas, também super-dimensionam aqueles ídolos do cinema de ação; aprecie o encontro titânico entre os três maiores astros de ação que este planeta já viu: Sly, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger, em uma cena que, se curta demais para o tamanho do trio, expõe com bom humor o que é uma amizade de muitos anos (além de nos oferecer os melhores diálogos e piadas do filme).

Sly expõe a lembrança de uma época na qual os socos eram mais brutais e menos estilizados, as explosões eram reais e não criadas em computador, a        motivação para o herói era nada mais que a donzela em perigo ou a emoção da vingança. E mesmo que o enredo leve os brutamontes para um paiseco de terceiro mundo com intuito de enfrentar o tirano local, não há nenhuma motivação política. O personagem de Sly vai ao tal país para salvar a garota, não para "libertar o povo". Sly apanha e seus companheiros apanham, exceto Jason Statham, o único representante do "novo" cinema de ação. Curioso observar que seu personagem é o de maior destaque no filme, tem até um arco romântico (que vai se revelar mera desculpa para uma boa cena de luta). Statham é também um dos poucos, hoje em dia, que se pode chamar de "herói de ação", já que The Rock e Vin Diesel estão cada vez mais buscando a versatilidade, aceitando papéis em dramas e comédias.

Pena que Stallone deixou de explorar o carisma e habilidade de Jet Li, relegado a um personagem quase cômico, sendo ridicularizado o tempo todo por sua estatura e pedindo aumento de salário. Creio que Sly incluiu no filme algum tipo de piada interna, pois Li e Statham são os maiores cachês da produção. Incrivelmente, o longa também carece de um maior número de cenas de ação nervosas, explosões maiores, lutas com edição mais clara.

Com relação ao "elenco-porrada", faltaram apenas Van Damme e Steven Seagal para a nostalgia ficar completa. O primeiro não aceitou o papel porque "não queria fazer mais um caça-níquel com um personagem unidimensional" (em seguida, fez um papel quase coadjuvante no pavoroso Soldado Universal 3). Acho que Seagal nem foi convidado, mas está no elenco da outra tosqueira curiosa do ano, Machete.

Anacrônico de corpo e alma, Os Mercenários diverte muito e mostra que Stallone sabe como realizar suas fantasias na telona. O produto final é cheio de personalidade, cumpre todas as promessas de pré-produção. Ou alguém duvida de que cada idéia ultrapassada foi colocada no filme de propósito?


NOTA: B