segunda-feira, 25 de abril de 2011

MOTORADIO: Foo Fighters - Wasting Light (2011)

O Foo Fighters é uma banda cheia de méritos.

MÉRITO UM: Expor a hipocrisia de grande parte da crítica roqueira.
Sim, porque os profissionais da caneta rocker juram amores ao Foo Fighters desde o primeiro e homônimo play, e o que mais se vê na crítica especializada é caras reclamando que tal banda "se repetiu" ou que "a fórmula desgastou" e coisas do tipo. Também descem a enxada em bandas de grande apelo pop, como se vender bem e ter um alcance maior que a lotação máxima de um boteco significasse baixa qualidade. 

Pois bem, o Foo Fighters é tão pop, mas tão pop, que até o Zeca Camargo gosta. E é uma banda que grava o mesmíssimo disco desde o ótimo The Colour And The Shape (1997), aprimorando a fórmula riff bacana + melodia marcante + refrão grudento. E aí está o segredo do sucesso, sem apedrejamento gratuito da crítica e com maciço apelo público. Para ilustrar essa parcialidade dos críticos, tomemos como exemplo o Pearl Jam e Metallica: os caras gravam grandes discos sem se repetir, mas são espinafrados exatamente por causa disso; são pressionados a criar um novo Ten ou Master Of Puppets, algo que não vai acontecer.

E vamos admitir: embora sejam discos bacanas, In Your Honor (2005) e Echoes, Silence, Patience and Grace (2007) estão situados na entressafra criativa da banda após o grande One By One (2002).

MÉRITO DOIS: Nunca se parecer com o Nirvana
Com o Foo Fighters, Dave Grohl deixou bem claro que o Nirvana era a banda do Kurt. Se Cobain estivesse vivo, lamentaria não ter dado mais espaço criativo àquele batera novo.

MÉRITO TRÊS (o mais importante): Ser uma grande banda e gravar discos incríveis
Apesar da condescendência da crítica em momentos menores, o Foo Fighters é sensacional. Uma puta banda, coesa, segura, liderada por um dos melhores front man da atualidade. Já lançou sete discos de inéditas, todos ótimos (embora ache os dois citados acima um tanto mais fracos) e ainda tem "o cabra" Dave Grohl.

O que finalmente me leva a Wasting Light: nº 1 da Billboard, diz-se que foi gravado na garagem de Grohl. Trata-se do disco mais "rock-grudento-trabalhado" desde There Is Nothing Left To Lose (1999), a pérola pop da banda, e tem qualidade musical comparável ao excelente One By One. Com uma guitarra a mais (Pat Smear foi "efetivado") Grohl e seus caboclos criam uma verdadeira parede sonora. Como There Is Nothing..., Wasting Light também prende do início ao fim com belas canções e refrões marcantes (eu não disse "fáceis"), riffs peguentos e rockões para dirigir batendo os dedos no volante. "Rope" já é uma das canções do ano: inicia com um efeito de guitarra e culmina em um riff do tipo "como ninguém nunca gravou isso antes?", tamanha beleza e identificação imediata. Com um  backing vocal esperto do Taylor Hawkins, tem um refrão inspirado. A letra parece simples mas também é esperta, pois insinua o sentimento de "esperança" aproveitando a semelhança gráfica entre as palavras "rope" e "hope". Uma das melhores músicas do Foo Fighters. "White Limo", rápida e gritada como se Grohl estivesse despencando de um penhasco, sugere uma homenagem ao ídolo Lemmy e seu Motorhead. Enquanto "Arlandria" briga com "These Days" pelo título de refrão mais grudento do disco, "Back & Forth" e "A Matter Of Time" garantem a pegada sem perder a melodia. "I Should Have Known" é a balada não-baba que todo bom disco de rock deveria ter; se liga no baixo desse som e na emoção do Dave ao cantar sobre perda e rancor. Belíssimo... "Walk" fecha o disco com mais uma melodia linda e uma letra que fala sobre o peso de recomeçar sempre - e da necessidade de não fazê-lo sozinho.

Wasting Light é sensacional, um disco para ouvir inteiro e com prazer; é um trampo feito com cuidado, é rock de verdade com um inegável acento pop, uma saudável mistura de influências que coloca Beatles, Led Zeppelin, Motorhead e o "grunge" (o pó de onde veio Dave Grohl) a serviço da boa música e do rock 'n' roll. Isso é o Foo Fighters e seu consagrado estilo, em um dos momentos mais inspirados da sua carreira.

NOTA: A