quinta-feira, 30 de junho de 2011

"O CAÇADOR", de Hong-jin Na

"Chugyeogia"- COREIA - 2008 - Policial - 125min. Roteiro de Shinho Lee e Hong-jin Na. Com Yun-seok Kim, Jung-woo Ha, Yeong-hie Seo, Seong-kwang Ha.

O país do cinema "anti-fórmula"
O cinema coreano e sua importante lição: se não é original, seja criativo.

Joong-ho Eom foi expulso da polícia por corrupção. Agora um cafetão ganancioso, desconfia que duas das suas meninas fugiram com o dinheiro que este investira na carreira delas. Quando a terceira desaparece, começa uma investigação por julgar que algum "concorrente" está aliciando e vendendo suas funcionárias. Eis que descobre que o destino das garotas é pior que o imaginado: foram capturadas (e, subentende-se, mortas) por um serial killer. Pegando o maníaco à unha, o entrega à polícia local (sem querer fazê-lo, é verdade). Fim de história, certo? Nada. É apenas o início deste que é o mais intrigante filme do gênero desde Seven.

Com as cartas na mesa desde o princípio - o serial killer é preso e confessa ter assassinado doze pessoas -, o então estreante cineasta Hong-jin Na investe em uma trama à prova de fórmulas e das coincidências inerentes aos enredos de Hollywood.

O curioso cinema praticado na Coréia do Sul tende a apostar no realismo, na violência funcional e em personagens de carne e osso. Não há espaço para ingenuidade ou catarse (é só lembrar de Oldboy). E o complicador: nas exíguas vezes em que ocorre alguma coincidência salvadora, é o vilão quem tira proveito do benefício.

E já falei demais.

Enxuto, tenso e, acredite, bem humorado, o roteiro segue sem concessões até o final, quando descobrimos que em um mundo perfeito, as pessoas procurariam resenhas de um filme somente após assisti-lo.

NOTA: A




"TERRITÓRIO RESTRITO", de Wayne Kramer

"Crossing Over" - EUA - 2009 - Drama - 113min. Roteiro de Wayne Kramer. Com Harrison Ford, Ray Liotta, Ashley Judd, Jim Sturgess, Cliff Curtis, Alice Braga, Alice Eve, Summer Bishil, Jacqueline Obradors, Justin Chon.

Sonho americano formulaico

"Eu adoraria fazer um filme independente, mas assim que meu nome é confirmado no projeto, ele deixa de ser independente".

A frase é atribuída à Harrison Ford, e não há arrogância nenhuma nessa fala; o cara está coberto de razão. Não fosse sua cara na capa, talvez eu passasse longe desse filme montado à moda do superestimado Crash - No Limite. E talvez o roteiro fragmentado jamais virasse película.

O filme tem a pretensão de mostrar as agruras e felicidades de imigrantes em busca do american dream naquele esquema de vários arcos que se encontram, mas derrapa feio ao pintar cores fortes demais em todos os seguimentos. Além da exaurida fórmula utilizada para contar a história, o enredo exagera tanto na disposição dos estrangeiros para correr riscos e ignorar limites em troca do green card como na particularidade estereotipada das famílias retratadas. Tudo isso suportando a cara de sono de Ford e a pele espichada do canastra Ray Liotta.

Todas as micro-histórias são estéreis de emoção, exceto uma: a da menina árabe perseguida pelo FBI após escrever uma redação escolar afirmando "entender os motivos que levaram ao 11 de setembro" e por ser "muçulmana simpatizante ao Jihad", segundo a agente responsável pelo caso. A paranoia americana e o Ato Patriota são usados como catalisadores do ódio de forma verossímil. Por causa desse arco, Território Restrito escapou de ganhar uma merecida nota vermelha.

NOTA: C-

sexta-feira, 17 de junho de 2011

FILMES PASSADOS (porque nunca é tarde para resenhar)

AUSTRÁLIA, de Baz Luhrmann (Autralia, AUS/EUA/UK, 2008, Drama - 165min). Roteiro de Stuart Beattie e Baz Luhrmann. Com Nicole Kidman, Hugh Jackman, Brandon Walters, David Wenham, Bryan Brown.

Baz Lurhmann materializou sua megalomania: história grandiosa, romance e tragédias -  fetiches coronários para meninas. Austrália é o tipico "filmão", longo e épico, abarrotado de clichês propositais e homenagens à Era de Ouro do cinema. Sem cerimônia, várias cenas e canções emulam clássicos de outrora. Se Tarantino pode homenagear seus inspiradores, Luhrmann também tem esse direito. Os furos no roteiro  incomodam (principalmente na construção dos personagens) mas não condenam o filme, que, não duvide, saiu como seu realizador idealizou, frame por frame. Até a manjada cena do "beijo na chuva". NOTA: C+


O ASSASSINATO DE JESSE JAMES PELO COVARDE ROBERT FORD, de Andrew Dominik (EUA/CAN, 2007, Western/Drama - 160min). Roteiro de Andrew Dominik baseado no romance de Ron Hansen. Com Brad Pitt, Casey Affleck, Sam Rockwell, Jeremy Renner, Mary-Louise Parker.

Jesse James era um bandido e também uma celebridade, talvez a primeira a ser registrada na América. O Assassinato... é um western lento, longo e contemplativo, mas de cenas intensas e performances magníficas do trio principal Pitt-Affleck-Rockwell  (Brad Pitt impressiona como o protagonista). Dividido basicamente em dois atos, o primeiro apresenta um Jesse James inteligente e cativante, quando chegamos a temer pela concretização do seu destino. Já no segundo ato, revela-se o fora-da-lei impiedoso e paranoico, com uma intuição sobrenatural que quase faz desandar a trama. Sorte que Pitt leva o personagem na rédea curta e jamais perde o foco. Quando ocorre o previsto (mais pela concretização do título do filme e menos pela forma intrigante como acontece), já não temos mais tanta condescendência com o bandido famoso ou tanta repugnância pelo covarde Ford. Um filme realizado com esmero e que merece ser apreciado. NOTA: A


DESAFIANDO O ASSASSINO, de Richard Fleischer (Mr. Majestyk, EUA, 1974, Ação - 103min). Roteiro de Elmore Leonard. Com Charles Bronson, Al Lettieri, Linda Cristal, Paul Koslo.

Que Steve McQueen, que nada! O maior (anti) herói de ação dos anos 70 chama-se Charles Bronson. Como o ex-combatente do Vietnã que só quer cuidar da sua plantação de melancias, Bronson dá um show de canastrice  e sangue nos olhos enfrentando um assassino profissional obcecado em matá-lo. Embora o roteirista seja o famoso escritor Elmore Leonard, a trama é cheia de furos e soluções duvidosas, mas a direção é segura nas bem elaboradas sequências de ação. Charles Bronson, explosões, lutas e diversão. Não esperava mais que isso e fui contemplado. NOTA: B