segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

ANTICRISTO, de Lars von Trier ("Antichrist", Dinamarca/Alemanha/França/Suécia/Itália, 2009 - drama - 109min). Roteiro: Lars von Trier. Com Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg.

Lars von Trier, sei que vc perderá várias noites de sono por causa do meu post, mas que porra de filme é esse???

Há tempos o dinamarquês está transitando entre amor e ódio, com obras apelativas como Dançando no Escuro e outras pretensiosas e brilhantes, como Dogville. Mas há um limite. Parece que o cineasta abraçou a idéia de pretensão pura e simples, do tipo "sou um gênio e foda-se quem não me compreende". Ok.

Anticristo tem dois bons momentos, que von Trier chamou de "prólogo" e "epílogo". Sim, ele dividiu o filme em capítulos, tal qual um Tarantino com intenções infernais. No "prólogo", em belíssimo preto-e-branco e com uma breve cena de sexo explícito, estabelece o motivo do filme existir: enquanto o casal Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg explodem em êxtase no chuveiro, seu filho de não mais que 2 anos despenca da janela para a morte certa. No "epílogo", também em p&b, Dafoe contempla a extensão da sua insanidade. Momentos distintos e líricos que não salvam o filme.

O que eu sou, alguém que compreende ou não compreende Lars von Trier? Não sei. Sou fã incondicional de Dogville e seu retrato sem maquiagens da natureza humana. Ainda não vi Os Idiotas. Agora, sei que o cara tem como princípios básicos esmiuçar a alma humana e revelá-la independente da capacidade de cicatrização de quem ousa dar-lhe ouvidos. E sei que é isso que o dinamarquês tentou neste Anticristo. Na sua visão, o anti-cristo, o demônio na terra, é uma garota - não, são todas as garotas. E ao tentar fingir que o demônio não vive nele também, o homem busca ajudá-la - mas quem o ajudaria? Segundo o cineasta, além de o mal estar enraizado na alma feminina, o canal para a manifestação maligna é o sexo. Por isso, uma cena incômoda de mutilação genital está no cardápio de Anticristo. Pelo menos, essa é minha leitura do filme. E sei que a criação de um "gênio" serve para suscitar discussão e dúvida, para que sua obra seja interpretada de formas diversas - desde mas convirjam ao caminho comum. Sim, vou ignorar a psicanálise que nos imputa a todos culpas insanas - em relevo a culpa sexual que carregamos desde a puberdade, por imposição religiosa de tempos imemoriais.

Ao término de Anticristo, me veio à mente um filme de outro diretor badalado, Irreversível, do franco-argentino Gaspar Noé. Neste, o cineasta conta uma história chocante em edição reversa, para mostrar a inevitabilidade dos fatos - e a impossibilidade de revertê-los. No entanto, choca de forma gratuita, em um filme que não suscita qualquer sentimento ou reflexão. Apenas choca. E infelizmente, é isso que Lars Von Trier conseguiu com Anticristo: um choque estéril. Tomara que essa transmutação do realizador de "gênio" para "gênio incompreendido" não seja irreversível.

NOTA: D

INIMIGOS PÚBLICOS, de Michael Mann ("Public Enemies", EUA, 2009 - Policial - 140min). Roteiro: Michael Mann, Ronan Bennett e Ann Biderman. Com Johnny Depp, Christian Bale, Marion Cotillard, Stephen Graham, Jason Clarke, Stephen Lang, Giovanni Ribisi, Stephen Dorff, David Wenham, Channing Tatum, Billy Crudup.

Pacino vs. De Niro (Fogo Contra Fogo);
Cruise vs. Foxx (Colateral);
Depp vs. Bale (Inimigos Públicos).

Duelos formidáveis travados em filmaços recentes, todos obra de um dos maiores cineastas do nosso tempo: Michael Mann. Em comum, os filmes tem o encontro de atores excelentes em situação de rivalidade; são duelos de interpretação (perdoe o clichê) de tirar o fôlego (perdoe o clichê - 2).

A história real do assaltante de bancos John Dillinger cabe em uma característica marcante dos roteiros de Michael Mann: a obsessão do homem por cumpir seu ofício, seja ele qual for. Todos os filmes que citei no início seguem essa idiossincrasia do cineasta. Os antagonistas são os melhores no que fazem (ou buscam isso com afinco) e, quando estão trabalhando, tal trabalho deve ser bem feito.

Dillinger tornou-se celebridade nos recessivos anos 30 por roubar bancos - os vilões da grande depressão - sem molestar os clientes. O público gostava dele, e o sentimento era recíproco. Esta admiração pública e os constantes assaltos bem sucedidos (além de suas fugas da prisão), motivaram os federais americanos a criar uma equipe especial para capturá-lo e desbaratar sua quadrilha (semente para a criação do FBI). A frente da equipe, Melvin Purvis, conhecido por dar cabo de outro bandido famoso, Pretty Boy Floyd (Channing Tatum).

Para contar esta história, Mann exercita mais uma vez sua veia de ação com perseguições e tiroteios realistas. O cineasta é especialmente competente neste quesito. Suas cenas de ação jamais são gratuitas ou estilizadas. Além da crueza, as cenas são realmente parte do roteiro e servem para contar a história. A fotografia de poucas cores ressalta a direção de arte e figurino do período, excepcionais. E o competente elenco de caras conhecidas completa o trabalho de mestre.

Johnny Depp abre mão de qualquer exagero ao compor seu John Dillinger. E tal atitude deve ser elogiada, pois não é qualquer ator que consegue não se deslumbrar por um personagem biográfico, principalmente aqueles retratados como heróis de seu tempo. Nessa linha, Depp adota um tom sóbrio, sem exalar qualquer insinuação de invencibilidade (outra armadilha comum). Devo comentar que Depp utilizou-se de poucos vídeos em P&B para montar seu personagem, e fez um trabalho fascinante. Mais uma vez.

Christian Bale, por sua vez, impõe um embate à altura - embora encontre seu nêmesis apenas uma vez (Mann também fez isso em Fogo Contra Fogo). Bale também escolheu a sobriedade, e entonou sua voz de forma a não lembrar personagens anteriores. Ficou com a missão ingrata do roteiro, já que é difícil torcer contra Dillinger neste filme. Além do enorme carisma de Depp e do personagem, Mann orquestrou a história de forma que os espectadores tivessem a impressão do público americano da época, mesmo que a quantidade de violência e sangue na tela dilua consideravelmente a visão romanceada da trajetória do gângster. Dillinger ainda possui outro fator simpatizante, o interesse romântico (a ótima Marion Cotillard), ao passo que Purvis parece não ter vida social. E tal interesse romântico há de revelar as motivações de John Dillinger - romantismo, lealdade, hedonismo - e o fará sucumbir ante inimigos com pouco a perder.



NOTA: B+

sábado, 16 de janeiro de 2010

(500) DIAS COM ELA, de Marc Webb ((500) Days Of Summer, EUA, 2009 - Romance - 95min). Roteiro: Scott Neustadter e Michael H. Weber. Com Joseph Gordon-Levitt, Zooey Deschanel, Clark Gregg, Geoffrey Arend, Patricia Belcher, Chloe Moretz

Rotular (500) Dias Com Ela como "comédia romântica" é colocá-lo no mesmo balaio de produções formulaicas, otimistas e de finais idênticos, que lotam as locadoras todo ano.

Com tom realista e imune a concessões, esta pérola do semi-estreante Marc Webb já entra com 1x0 no jogo por tratar-se de um filme romântico visto pelo ponto de vista masculino. E ao contrário do que se possa imaginar, o protagonista se entrega e sofre como as heroínas sensíveis, mostrando que o longa está mais próximo do realismo humano que dos clichês inerentes a produções similares. Porque um cara pode de fato ser assim, o problema é o desenrolar do jogo e necessidade de se esconder, ou não aceitar, determinado sentimento.

O ponto de partida é fácil: arquiteto frustrado, Tom Hansen (Gordon-Levitt, muito convincente) trabalha em uma empresa criadora de cartões sentimentais, local onde conhece Summer (Zooey Deschanel, a criatura da foto). Em uma cena bacana no elevador, vão descobrir que possuem o mesmo gosto musical e, poucas cenas depois, Tom está apaixonado. Mas Summer não é grande entusiasta desse tal de amor, portanto, a vida de Tom não será fácil.

O segundo gol de Webb é marcado pela edição esperta adotada para contar a história. Ele escolhe aleatoriamente alguns dias dentre os 500 do título e, em formato de montanha russa, acompanhamos os altos e baixos do relacionamento dos protagonistas. Escolher dias aleatórios para acompanhar a vida do casal é calculado para emoldurar o tom do filme, claramente um libelo contra o superestimado "destino".

Apesar de não se apoiar em clichês, ao ver (500) dias... me lembrei de duas produções recentes: Separados Pelo Casamento, também calcado na cruel realidade, e o mais convencional Minhas Adoráveis Ex-Namoradas, no qual um divertido Michael Douglas diz ao seu pupilo Matthew McConaughey que, "em um relacionamento, quem se importa menos tem o controle". E não é verdade? Tom sofre porque se entrega sem adotar os corriqueiros "joguinhos da relação", que limita muito a intensidade e o prazer que determinado relacionamento pode atingir. Consequentemente, quem é intenso tende a perder, sofrendo um bocado no processo.

As mulheres que assistem ao filme tendem naturalmente a demonizar Summer, a mocinha ingrata que encontrou um suposto principe encantado sem dar o devido valor. Mas visto do ponto de vista menos fantasioso, é reconfortante observar que tudo de intenso nesses 500 dias vividos foi bom para ambos, pois os tocou profundamente, de forma diversa. No fim, valeu a pena. Tom, pelo menos, aprendeu que as possibilidades estão além do destino, residem no acaso puro e simples, conduzido por suas escolhas. Para Summer, a lição é que o amor não possui regras; o frio na barriga acontece quando menos se espera. Neste momento, toda teoria vai privada abaixo.

Ao subir os créditos finais, algo fica claro: quem passa pela intensidade de um sentimento apaixonado, sendo correspondido ou não, jamais sai imune do processo. Algo se quebra. Ou se conserta.

NOTA: A

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

AVATAR, de James Cameron (EUA, 2009 - Ficção Científica/Ação - 162min). Roteiro: James Cameron. Com Sam Worthington, Zöe Saldaña, Stephen Lang, Michelle Rodriguez, Giovanni Ribisi, Joel Moore, CCH Pounder, Wes Studi, Laz Alonso, Dileep Rao e Sigourney Weaver.

Megalomaníaco. Controlador. Arrogante. Gênio.

Assim é James Cameron. A cada projeto, o cara não reinventa a roda, mas dá uma nova função para ela.

De tudo que os meios de comunicação que noticiaram Avatar mencionaram, chama atenção o período de 10 anos que o projeto permaneceu nas gavetas da Lightstorm, produtora de Cameron. Tudo porque o homem que criou os bordões mais bacanas de Arnold Shwarzenegger estava ajudando a desenvolver a tecnologia que viabilizaria a existência do mundo fantástico de Pandora, lar de criaturas humanóides (os Na’vi) e palco de toda a trama.


O roteiro de Avatar é uma mistura de Dança Com Lobos e O Último Samurai, encontrando Matrix e O Senhor dos Anéis, com aspirações shakespearianas. No ano terráqueo de 2156, o ex-marine paraplégico Jake Sully (Worthington) é convidado a assumir o lugar do seu irmão gêmeo morto em Pandora. Sua missão: utilizar-se, através de conexões neurológicas à distância, de um avatar Na’vi especialmente desenvolvido à genética e padrão neurológico do seu irmão cientista e infiltrar-se na tribo para convencê-los a deixar o local onde moram – fonte de um minério que, como frisa o chefe da expedição, vale US$ 20 milhões o quilo. Jake precisa aprender, conhecer os costumes e ganhar a confiança dos Na’vi para que possa persuadi-los, mas a medida que convive com os tribais – em especial com Neytiri (Zöe Saldaña, ótima) – Jake aprende a admirar aquele mundo onde aura mística e harmonia com a natureza são os valores mais importantes. Já viu isso antes? Como disse no início, Cameron não recria a roda no roteiro que escreveu sozinho, mas protege seus clichês em uma embalagem nunca vista antes.


E esta embalagem única foi desenvolvida pela Weta de Peter Jackson, a empresa responsável por O Senhor dos Anéis. Com os computadores da Weta, James Cameron transforma Avatar no maior espetáculo visual já visto na história do cinema, com um mundo inteiro criado em CGI, toda uma fauna e flora peculiar – e belíssima. Posso dizer que é indistinguível da realidade, tamanha a riqueza de detalhes, perfeição da iluminação e textura aplicada em criaturas, plantas e objetos. Os Na’vi, criaturas com feições felinas, pele azul e 3 metros de altura, foram desenvolvidos à perfeição: a textura da pele é detalhista; a expressão corporal é fluida de forma perfeita; os olhos, enormes, são comoventemente expressivos (é Cameron provando que quebrou a última barreira do CGI - a falta de vivacidade dos olhos).

Para desenvolver essa fluidez, a técnica é a velha conhecida “captura de performance”, mas ao invés de pontos de luz, os atores utilizam uma veste completa, que captura a menor nuance de movimento ou expressão. O resultado é uma atuação convincente que observa de perto cada sentimento expressado pelas criaturas – observem atentamente Zöe Saldaña, que faz um trabalho impressionante sob a maquiagem digital de Neytiri.


Mas isso tudo, esses 10 anos de maturação, as câmeras e software desenvolvidos especialmente para o longa, tudo ruiria sem misericórdia se James Cameron não utilizasse os efeitos especiais de cair o queixo para contar uma história poderosa. A forma de Jim “contar um conto” (comparável apenas com Spielberg e, agora, Peter Jackson) é o grande trunfo que prende o expectador na cadeira ao longo dos seus 160 minutos. Seu roteiro ainda é maniqueísta e repleto de diálogos pouco inspirados, porém, o cara desenvolve a história e empolga como poucos. A edição é linear e tranquila sem ser enfadonha; não há cortes bruscos ou “truque da chuva” para enganar as vistas ou esconder imperfeições.

Observamos a crescente evolução de Jake como Na’vi – e, paradoxalmente, como humano - com interesse e preocupação genuínos até o crescendo que culminará no empolgante combate entre Na’vi e o exército mercenário liderado pelo Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang, adicionando mais um vilão magnífico à galeria de Cameron). As cenas de ação não são menos que espetaculares e há momentos de prender o fôlego na torcida pelos heróis.
No entanto, Cameron acerta a mão com louvor no fator que faz toda diferença entre sucesso e fracasso, o fator que procuro em todos os filmes que assisto: a emoção que aquela história contada desperta em cada um dos presentes. São tantos os momentos, tantos os pontos emocionantes protagonizados por criaturas azuis, que facilmente nos identificamos e nos preocupamos com aquele povo diferente – uma mensagem poderosa de Cameron contra o preconceito –, admiramos seu mundo no qual a divindade e a natureza são literalmente conectadas com o povo – outra mensagem clara de ecologia e fé – e a repulsa aos soldados assassinos – mensagem pacifista, ainda que o roteiro se utilize de clichês maniqueístas incômodos, como o prazer demonstrado pelos mercenários ao abater com canhões Na’vis armados de arco e flecha. Cameron desperta emoções e lágrimas sem apelar a manipulações baratas, tudo que ele faz é dar ao seu público motivos genuínos para acreditar nos personagens e em suas motivações. E ele o faz em um campo repleto de distrações: como se não bastasse os efeitos impressionantes e o mundo cheio de cores, ainda há o fantástico efeito 3D que joga a platéia no meio da ação. Mimos que poderiam facilmente colocar o desenvolvimento do enredo em segundo plano, mas não é o que acontece na cartilha do cineasta.


E quem diria que a veterana Sigourney Weaver ainda seria capaz de criar um personagem que alia ternura e dureza em um filme de ação? Como a cientista líder, Dra. Grace Augustine, ela é nossa representante em Pandora, e seu carisma ao demonstrar ódio e amor fraterno por Jake com a mesma intensidade é que nos conduz entre os Na’vi até um momento marcante que muda o ritmo do filme e dos personagens.


Me emocionei em vários momentos, tanto por testemunhar um trabalho histórico de qualidade ímpar, quanto por acompanhar a trajetória daqueles ricos personagens.
Depois de brincar de “rei do mundo”, James Cameron criou um mundo e brincou de “deus”.


NOTA: A+

sábado, 9 de janeiro de 2010

"Marvel Millennium - Wolverine vs. Hulk", de Damon Lindelof (roteiro), Leinil Francis Yu (arte) e Dave McAig (cores) - Panini Comics - Minissérie mensal em três edições


"Inquebrável. Lá se vai a teoria."

Logan foi literalmente partido ao meio pelo Hulk e precisa buscar suas pernas, a 6km de distância montanha acima. E este é apenas o começo desta minissérie do universo Ultimate.

Criado pela Marvel para recontar a história de heróis clássicos e conquistar os poucos adolescentes do século 21 que vão às bancas em busca de aventuras, o universo Ultimate (chamado Marvel Millennium no Brasil) moderniza de forma cinematográfica os personagens Marvel, com resultados geralmente bons - vide "The Ultimates" ("Os Supremos", por aqui), a versão mais "realista" dos Vingadores, fonte provável do filme que a Marvel prepara para 2012.

Sobre este embate entre Wolverine e Hulk, o ponto de partida é bacana: o Hulk está fora de controle. Derrubou um prédio inteiro em Paris, massacrou um rebanho de gado na Irlanda, causou um terremoto na India e foi responsável pela morte de 815 pessoas em Nova York. Por este último, foi julgado por assassinato em massa e coube a S.H.I.E.L.D. executar a sentença: morte por bomba nuclear. Porém, o gigante verde (é, está verde no momento) escapou da morte e está escondido em algum lugar do planeta. Nick Fury (desenhado com a cara de Samuel L. Jackson no Universo Ultimate) convoca o irascível Wolverine para caçá-lo. A ordem é clara: matar o Hulk. Sarcástico e imprevisível como nos bons tempos (anos 80, molecada), Logan aceita a missão pelo singelo prazer de exercitar seu instinto assassino.

O argumentista Damon Lindelof tem a grande sacada de usar a estropiada memória de Wolverine para contar a história, oferecendo uma narrativa fragmentada que, além de dar certa agilidade à aventura, brinca livremente com os conceitos de imortalidade do mutante canadense e da eficiência do seu fator de cura, levado aqui às últimas consequências - basta dizer que, além de ser partido ao meio (o auge do já vi acontecer com o personagem), Logan fica no centro de uma explosão e ainda tem tempo de ter um olho arrancado. Confesso que me incomodou muito o Hulk conseguir quebrar a coluna de adamantium, mas não deixa de ser ousado. E a observação do Logan, lá no inicio da resenha, explica bem - teoria é teoria, prática...

"Qual perna eu como, Logan? Esquerda ou direita? Decide..."

Wolverine tem fator de cura, mas não consegue regenerar membros (ufa!). Por isso, o Hulk propõe a escolha: comeria uma das pernas para o mutante parar de persegui-lo. Como o Hulk, monstro com racionalidade duvidosa, consegue propor algo a alguém? Bem, por motivo que prefiro não revelar, Bruce Banner assume a parte racional, com a personalidade do Hulk Cinza do Universo Marvel "normal".

A história tem algumas reviravoltas fortes (gibi virou cinema de vez) e mostra uma Betty Ross que leitores nostálgicos como eu não vão gostar, mas que tem importância vital para a trama e para o comportamento do Hulk/Banner. O triste é que poderia se aproveitar e criar um combate clássico entre os dois personagens, mas optou-se por uma trama repleta de surpresas e participação de vários personagens, em detrimento de um embate mais empolgante. Em nenhum momento Wolverine crava suas garras no monstro, e isso é extremamente decepcionante. O fato de Logan aceitar matar o Hulk para "aplacar sua raiva não-admitida" (essa tal raiva acaba sendo o mote principal dos dois personagens) também não convence.

Embora o argumento de Lindelof seja ousado e repleto de frases de efeito como nos velhos tempos, e a arte de Leinil Yu ser ágil e graficamente atraente (apesar do "defeito Jim Lee" de variar pouco os traços faciais dos personagens), me vem à lembrança a história de Peter David e Todd McFarlane publicada no Brasil pela Editora Abril nos anos 90, com os dois selvagens em combate sanguinário. As 20 e poucas páginas daquela história são melhores que esta minissérie inteira... Mas isso é recorrente em toda produção de quadrinhos mainstream atual. E, para a atualidade, este "Wolverine vs. Hulk" é bem sacado e diverte.

NOTA: C

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

2012, de Roland Emmerich (EUA, 2009 - Ficção Científica/Ação - 158min). Roteiro: Roland Emmerich e Harald Kloser. Com John Cusack, Chiwetel Ejiofor, Amanda Peet, Oliver Platt, Danny Glover, Thandie Newton e Woody Harrelson.

Às vezes parece que qualquer um faz filme em Hollywood. Vamos lá: escolha uma especialidade (ex.: ação barulhenta e sem enredo), tenha o mínimo conhecimento teórico sobre o negócio, coloque umas câmeras em locais inusitados, copie o estilo de alguém muito bom (ou de vários muito bons) e go ahead! A "especialidade" que escolhi aleatoriamente foi uma desculpa para criticar Michael Bay, que nunca tem um roteiro de verdade em mãos, mas sempre cria explosões e perseguições legais, levando a molecada ao cinema - por isso, filma aos montes com orçamentos gigantes e astros do primeiro time. E daí que as explosões e perseguições são copiadas de John Woo, John McTiernan, Richard Donner, Tsui Hark?...

Mas o assunto aqui é Roland Emmerich, o alemão realizador de filmes-catástrofe.

Como o cara que filmou o bacana Soldado Universal com Van Damme e Dolph Lundgreen saindo na porrada pôde realizar bobagens como 10.000 A.C. e esse 2012? O outro filme catástrofe do alemão, O Dia Depois de Amanhã, é até bacana; a busca do pai pelo filho durante o apocalipse é mais convincente (posso chamar assim?) do que o pobre John Cusack discutindo a relação com Amanda Peet enquanto o mundo desaba.

Os efeitos especiais são muito bons, e somente por estes o filme vale algo. E mesmo assim, o criador do trailer teve o capricho de colocar TODAS as cenas de destruição do longa no filminho promocional. O personagem de Woody Harrelson também traz certo alento. Fazendo um radialista aparentemente louco, definitivamente excêntrico, o ator parece ser o único a sacar o tom do filme - e se divertir no processo.

Cusack? Para mim, um dos atores mais confiáveis do cinema, aceitou estrelar a bomba - e mesmo depois de ler suas falas! Infelizmente, ele falha no mais prosaico para um herói do cinema: não consegue empatia com a platéia em sua cruzada. Eu estive totalmente indiferente aos seus esforços heróicos durante a (bocejante) projeção. E olha que o roteiro tenta de tudo para nos comover: o personagem de Cusack é um escritor fodido que não se sustenta com as vendas do seu livro (por isso dirige uma limusine), é rejeitado pela mulher, o ídolo do seu filho mais velho é o padrasto, até os filhos feios do seu patrão o tratam como lixo. Junte tudo isso ao drama de precisar proteger a família inteira da morte certa no apocalipse. Pois é, e mesmo assim, não dá liga. Está deslocado, John!

Emocionalmente vazio (e estamos falando de uma reconciliação familiar em meio ao armagedon!), cenas que contam demais com a condescendência do espectador (a cena do avião... putz...) e muito longo para pouco dizer, 2012 está arrebentando nas bilheterias mundiais, e assim como o terrível Transformers: A Vingança dos Derrotados, de Michael Bay, já é um dos filmes mais vistos de 2009. Sinal de que teremos muitas produções como 2012, Transformers, G.I. Joe  e (infelizmente) X-Men Origins: Wolverine, com orçamentos monumentais, cenas absurdas e nada a dizer. Triste.

NOTA: D