Lars von Trier, sei que vc perderá várias noites de sono por causa do meu post, mas que porra de filme é esse???
Há tempos o dinamarquês está transitando entre amor e ódio, com obras apelativas como Dançando no Escuro e outras pretensiosas e brilhantes, como Dogville. Mas há um limite. Parece que o cineasta abraçou a idéia de pretensão pura e simples, do tipo "sou um gênio e foda-se quem não me compreende". Ok.
Anticristo tem dois bons momentos, que von Trier chamou de "prólogo" e "epílogo". Sim, ele dividiu o filme em capítulos, tal qual um Tarantino com intenções infernais. No "prólogo", em belíssimo preto-e-branco e com uma breve cena de sexo explícito, estabelece o motivo do filme existir: enquanto o casal Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg explodem em êxtase no chuveiro, seu filho de não mais que 2 anos despenca da janela para a morte certa. No "epílogo", também em p&b, Dafoe contempla a extensão da sua insanidade. Momentos distintos e líricos que não salvam o filme.
O que eu sou, alguém que compreende ou não compreende Lars von Trier? Não sei. Sou fã incondicional de Dogville e seu retrato sem maquiagens da natureza humana. Ainda não vi Os Idiotas. Agora, sei que o cara tem como princípios básicos esmiuçar a alma humana e revelá-la independente da capacidade de cicatrização de quem ousa dar-lhe ouvidos. E sei que é isso que o dinamarquês tentou neste Anticristo. Na sua visão, o anti-cristo, o demônio na terra, é uma garota - não, são todas as garotas. E ao tentar fingir que o demônio não vive nele também, o homem busca ajudá-la - mas quem o ajudaria? Segundo o cineasta, além de o mal estar enraizado na alma feminina, o canal para a manifestação maligna é o sexo. Por isso, uma cena incômoda de mutilação genital está no cardápio de Anticristo. Pelo menos, essa é minha leitura do filme. E sei que a criação de um "gênio" serve para suscitar discussão e dúvida, para que sua obra seja interpretada de formas diversas - desde mas convirjam ao caminho comum. Sim, vou ignorar a psicanálise que nos imputa a todos culpas insanas - em relevo a culpa sexual que carregamos desde a puberdade, por imposição religiosa de tempos imemoriais.
Ao término de Anticristo, me veio à mente um filme de outro diretor badalado, Irreversível, do franco-argentino Gaspar Noé. Neste, o cineasta conta uma história chocante em edição reversa, para mostrar a inevitabilidade dos fatos - e a impossibilidade de revertê-los. No entanto, choca de forma gratuita, em um filme que não suscita qualquer sentimento ou reflexão. Apenas choca. E infelizmente, é isso que Lars Von Trier conseguiu com Anticristo: um choque estéril. Tomara que essa transmutação do realizador de "gênio" para "gênio incompreendido" não seja irreversível.
NOTA: D
Será que Lars von Trier esta se tornando um novo Stanley Kubrick?
ResponderExcluirAclamado, entretanto, incompreendido?
Acho que o adjetivo certo é "pretensioso", amigo. Não que seja defeito, pois da pretensão nascem os "achados". Mas Von Trier é desafiador, e por isso, irresistível. Kubrick era um gênio que conseguia realizar bem filmes de qualquer gênero. "De Olhos Bem Fechados" pode entrar no termo "incompreendido", mas considero um bom filme. Abraço!
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