"Inquebrável. Lá se vai a teoria."
Logan foi literalmente partido ao meio pelo Hulk e precisa buscar suas pernas, a 6km de distância montanha acima. E este é apenas o começo desta minissérie do universo Ultimate.
Criado pela Marvel para recontar a história de heróis clássicos e conquistar os poucos adolescentes do século 21 que vão às bancas em busca de aventuras, o universo Ultimate (chamado Marvel Millennium no Brasil) moderniza de forma cinematográfica os personagens Marvel, com resultados geralmente bons - vide "The Ultimates" ("Os Supremos", por aqui), a versão mais "realista" dos Vingadores, fonte provável do filme que a Marvel prepara para 2012.
Sobre este embate entre Wolverine e Hulk, o ponto de partida é bacana: o Hulk está fora de controle. Derrubou um prédio inteiro em Paris, massacrou um rebanho de gado na Irlanda, causou um terremoto na India e foi responsável pela morte de 815 pessoas em Nova York. Por este último, foi julgado por assassinato em massa e coube a S.H.I.E.L.D. executar a sentença: morte por bomba nuclear. Porém, o gigante verde (é, está verde no momento) escapou da morte e está escondido em algum lugar do planeta. Nick Fury (desenhado com a cara de Samuel L. Jackson no Universo Ultimate) convoca o irascível Wolverine para caçá-lo. A ordem é clara: matar o Hulk. Sarcástico e imprevisível como nos bons tempos (anos 80, molecada), Logan aceita a missão pelo singelo prazer de exercitar seu instinto assassino.
O argumentista Damon Lindelof tem a grande sacada de usar a estropiada memória de Wolverine para contar a história, oferecendo uma narrativa fragmentada que, além de dar certa agilidade à aventura, brinca livremente com os conceitos de imortalidade do mutante canadense e da eficiência do seu fator de cura, levado aqui às últimas consequências - basta dizer que, além de ser partido ao meio (o auge do já vi acontecer com o personagem), Logan fica no centro de uma explosão e ainda tem tempo de ter um olho arrancado. Confesso que me incomodou muito o Hulk conseguir quebrar a coluna de adamantium, mas não deixa de ser ousado. E a observação do Logan, lá no inicio da resenha, explica bem - teoria é teoria, prática...
"Qual perna eu como, Logan? Esquerda ou direita? Decide..."
Wolverine tem fator de cura, mas não consegue regenerar membros (ufa!). Por isso, o Hulk propõe a escolha: comeria uma das pernas para o mutante parar de persegui-lo. Como o Hulk, monstro com racionalidade duvidosa, consegue propor algo a alguém? Bem, por motivo que prefiro não revelar, Bruce Banner assume a parte racional, com a personalidade do Hulk Cinza do Universo Marvel "normal".
A história tem algumas reviravoltas fortes (gibi virou cinema de vez) e mostra uma Betty Ross que leitores nostálgicos como eu não vão gostar, mas que tem importância vital para a trama e para o comportamento do Hulk/Banner. O triste é que poderia se aproveitar e criar um combate clássico entre os dois personagens, mas optou-se por uma trama repleta de surpresas e participação de vários personagens, em detrimento de um embate mais empolgante. Em nenhum momento Wolverine crava suas garras no monstro, e isso é extremamente decepcionante. O fato de Logan aceitar matar o Hulk para "aplacar sua raiva não-admitida" (essa tal raiva acaba sendo o mote principal dos dois personagens) também não convence.
Embora o argumento de Lindelof seja ousado e repleto de frases de efeito como nos velhos tempos, e a arte de Leinil Yu ser ágil e graficamente atraente (apesar do "defeito Jim Lee" de variar pouco os traços faciais dos personagens), me vem à lembrança a história de Peter David e Todd McFarlane publicada no Brasil pela Editora Abril nos anos 90, com os dois selvagens em combate sanguinário. As 20 e poucas páginas daquela história são melhores que esta minissérie inteira... Mas isso é recorrente em toda produção de quadrinhos mainstream atual. E, para a atualidade, este "Wolverine vs. Hulk" é bem sacado e diverte.
NOTA: C
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