A morte é a única verdade absoluta.
Vivemos na possibilidade de partir a qualquer momento.
Então, por que diabos uma despedida é tão difícil? Já que o fim é inevitável, por que se despedir não é um ato instintivo, como se alimentar ou fazer sexo?
Estou redigindo este epitáfio há dias. Embora tenha plena consciência de que nada é feito para durar, tenho grande dificuldade em dizer “adeus”. Não consigo encontrar as palavras certas para descrever meus sentimentos ao deixar coisas pelo caminho. Mas a jornada é essa, não é? Ganhar, perder, abandonar, ser abandonado. Só esqueceram de incluir na Bíblia o treinamento para tanto. Mas tudo bem. Já passei por isso antes e passarei outra vez. Até conhecer a verdade absoluta.
Estive com vocês por 20 meses. Criei vínculos intensos com vários ao longo deste tempo. Fiz amigos. Pessoas que, mesmo que o contato cesse pelo ciclo natural das coisas, permanecerão por muito tempo na minha mente e retina. Posso afirmar que este período foi um dos mais prolíficos e enriquecedores da minha vida.
Em 20 meses, confirmei que grandes mudanças estão sempre a um passo – um passo! – de acontecer. Aprendi que é preciso coragem para dar esse passo, mas que nem sempre é covardia retroceder. Ser conseqüente está no lado bom da personalidade. Pratique.
Senti que a frustração presente sempre é maior que aquela superada. As recompensas do presente também são mais saborosas.
Confirmei que ao ceder algo bacana de mim a alguém, sempre há uma contrapartida.
Obrigado para quem me ensinou muito e para quem aprendeu algo comigo, sobretudo para aqueles que a troca de sabedoria foi natural e simultânea; para os iluminados que sempre souberam o que dizer quando eu estava puto; para os que souberam ficar calados quando sentiram que dessa forma me ajudariam mais; para os que aceitaram minhas conversas e brincadeiras; para aqueles que tiveram paciência de ouvir meus conselhos; para quem entreguei diariamente notícias de anteontem; para todos que precisaram de ajuda para incrementar o e-mail com alguma palavrinha esquisita ou para arrepiar um chato; para quem precisou de ajuda em um discurso, vejam vcs, de despedida. Agradeço aqueles que entendiam meu cinismo (alguns até achavam engraçado); a todos que não julgavam meu ceticismo; para os que me enriqueceram profissionalmente; para quem dividiu comigo mesa de bar e confidências; para aqueles que me deixaram fascinar por um tostão da própria vida, dividindo sonhos, opiniões, angústias, segredos, lágrimas.
Obrigado por me fazer rir muito. Eu ri demais com as cabocladas, as palhaçadas, as sacadas geniais, com o sarcasmo que nos motiva a sair da cama. Rir de nós mesmos é a melhor terapia, e muitos aí fazem isso com extrema competência.
Desculpem se fugi, se insisti, se agredi, se menti. Minha natureza intensa e inquieta me compele a cometer alguns excessos.
Às pessoas que magoei sem querer, me desculpem. Quem eu magoei conscientemente, espero que ambos tenhamos aprendido algo com o episódio.
Quem é meu amigo não deve encarar esse e-mail como uma despedida, pois sei que o contato será mantido. Atenha-se à parte dos agradecimentos e desculpas. Para os demais, quero que saibam que o convívio foi enriquecedor.
Muito Obrigado e muito boa sorte a todos.
Sentirei muita falta da convivência e das risadas.
Fade in.