segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O HOMEM DO FUTURO, de Claudio Torres

Brasil - 2011 - Ficção Científica/Comédia - 106min. Roteiro de Claudio Torres. Com Wagner Moura, Alinne Moraes, Gabriel Braga Nunes, Fernando Ceylão, Maria Luisa Mendonça.

Entretendo e cantando

Quem pensa que o Brasil não consegue produzir filme de gênero certamente ficou perdido no espaço tempo, mais precisamente nos fundilhos das pornochanchadas e dos "filmes sociais" dos anos 80.

Pois bem, nosso cinema não só é capaz de produzir bons filmes de gênero como também cria atores com total consciência do seu lugar na profissão, capazes de transitar com desenvoltura e qualidade nas diversas mídias que o empregam.

Por isso que O Homem do Futuro deve ser visto: uma ficção científica brasileira protagonizada pelo melhor ator do país e capaz de varrer preconceitos daqueles que ainda acreditam não ser possível aliar qualidade e entretenimento no nosso cinema.

Wagner Moura é Zero, um homem que foi humilhado na faculdade pela mulher que ama e se tornou um cientista brilhante e infeliz, na mesma proporção. Criador de um revolucionário gerador de energia, o equipamento inesperadamente funciona como uma máquina do tempo, levando Zero a viajar vinte anos no passado, mais precisamente ao dia que ele considera o pior da sua vida. Obviamente, tentará alterar os fatos que acredita tê-lo tornado infeliz.

Pausa: se o ponto de partida do enredo pode parecer "americano" demais (estudantes, baile, bullies) e derrubar a incrível defesa do cinema nacional que fiz no primeiro parágrafo, vale lembrar que o cenário principal do filme é uma faculdade em 1991 e está ocorrendo uma festa a fantasia no local (não um "baile de formatura"), o que condizia com a realidade apesar do plano Collor. Não?

O diretor e roteirista Claudio Torres, que tem um filme muito bacana no currículo (O Redentor) e outro  que parece uma novela das sete nos anos 90 protagonizada por uma mulher gostosa e um sujeito engraçado (A Mulher Invisível), tratou de criar uma comédia romântica eficiente, equilibrando os paradoxos temporais sem esquecer os problemas orgânicos - afinal, como confiar na precisão da nossa memória sobre fatos ocorridos há vinte anos?

O roteiro é consistente, divertido e bem amarrado, esconde reviravoltas dignas de Jorge Furtado em seus melhores momentos. Tem ótimo desenvolvimento com a direção descontraída de Torres. E o filme é protagonizado por um ator que é o verdadeiro trunfo de qualquer diretor que o tenha na função: Wagner Moura. Com um roteiro que o desafia a interpretar várias versões do mesmo personagem, Moura convence até em sua versão vinte anos mais jovem mudando apenas o penteado. Sim, em uma decisão que considero acertada, Torres utilizou os mesmos atores no passado e presente, cedendo muito mais espaço a Moura nas cenas passadas em 1991 do que aos demais atores - e sabiamente limitando a participação da versão madura de Alinne Moraes, muito dependente de muletas como cabelo preso e ausência de maquiagem. É alentador que a versão juvenil da menina tenha formado um par romântico convincente com o nerd Zero, e a atriz tem seus méritos por transmitir uma doçura sincera e emoções contidas (portanto, sem careta e a bocarra exagerada que costuma exibir em outras produções).

Entretenimento de primeira.

E nem adianta tentar esquecer a música "Tempo Perdido" depois da sessão...

NOTA


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