sexta-feira, 20 de maio de 2011

THOR, de Kenneth Branagh

EUA - 2011 - Aventura/HQ - 114min. Roteiro de Ashley Miller e Zack Stentz. Com Chris Hemsworth, Natalie Portman, Anthony Hopkins. Tom Hiddleston, Stellan Skarsgard, Kat Dennings, Clark Gregg, Idris Elba, Ray Stevenson, Jaimie Alexander, Rene Russo.


Prequel divertido

É difícil não gostar de Thor quando se acompanha os quadrinhos da Marvel desde criança (no meu caso, desde os 6 anos de idade).

Não me refiro à qualidade cinematográfica do longa, pois os problemas da adaptação são muitos. Estou falando da nostalgia, dos deuses imortais, da ponte do arco-iris e seu guardião (Heimdall), do Destruidor, de Loki, da exagerada e dourada Asgard, de Odin e, principalmente, de um filme de super-herói em uma aventura típica de gibi.

Se Homem de Ferro e O Incrível Hulk mantém-se firme em busca de um tom mais realistico, Thor escancara a fantasia das HQs, enquadrando até a S.H.I.E.L.D. neste conceito. Tudo, claro, com o intuito de incluir o Deus do Trovão no universo criado em celulóide que culminará no longa-metragem dos Vingadores, o projeto mais ambicioso do formato desde que Richard Donner lançou Superman em 1978.

Essa atmosfera e a quantidade de boas cenas de ação são alguns dos poucos elogios que posso tecer à Kenneth Branagh, cineasta especializado em Shakespeare seduzido pelos milhões e o apelo das adaptações quadrinísticas (será que ainda há dúvidas de que trata-se de um novo gênero cinematográfico?). A propósito, é um grande mérito da Marvel atrair cineastas autorais para seus projetos (vide Ang Lee, Sam Raimi e Bryan Singer), ainda que, ao contrário dos citados, Branagh não tenha oferecido muito além daquilo que já mencionei, combinando ângulos mirabolantes e vilões bem conduzidos. Sua propalada fama de diretor dramático pouco representa à trama do deus que é banido do seu reino pelo próprio pai para aprender lições de humildade na Terra. 

O grande problema de Thor como cinema é a rapidez com que o arrogante protagonista torna-se humilde e digno da compaixão de Odin após passar aparentemente um único dia na Terra; seu relacionamento com a mortal Jane Foster (Natalie Portman de férias), que se apaixona pelo rapaz esquisitão após meia dúzia de diálogos; e a incômoda impressão de que as soluções são apressadas e sem compromisso com a plausibilidade.

Ainda assim, Thor diverte bastante como "filme de gibi" para os iniciados e como "filme de ação" para quem não dá a mínima para história em quadrinhos.

Em tempo: se há alguma ousadia nesta adaptação, é a de servir descaradamente como prólogo para Os Vingadores, impressão reforçada pela reveladora cena após os créditos.

NOTA: B



MOTORADIO: The Strokes - Angles (2011)

O rock precisa de salvação?

Algumas pessoas acham que sim.

Uma puta que já pariu Berry, Presley, Hendrix, Zappa, Fogerty, Angus, Clapton, King, Bowie, Mercury e até os gêmeos Page & Plant, Lennon & McCartney, Jagger & Richards precisa ser salva por quem?

Se o mundo fosse dominado por fanáticos religiosos em 1979 e o rock banido para sempre da vida terrestre, a quantidade e qualidade do que fora produzido até então supriria qualquer necessidade satânica enquanto existisse energia elétrica. Duvida? Olha de novo os nomes em negrito.

Então, porque os coitados dos meninos dos Strokes precisam salvar a porra do rock o tempo todo???

Não precisam e não o pretendem, como atesta esse Angles, tão bom e tão característico como qualquer álbum anterior dos Strokes.

Se alguém me disser que "Under Cover Of Darkness" não caberia entre as 11 faixas do Is This It, tal qual um Eddie Murphy antigas eu perguntarei: whyyyyy? Dançante-não-vulgar, é rock com vocal emotivo e sem filtro, uma das músicas que mais tenho ouvido ultimamente. A melhor. E se a banda teve coragem de colocar a melhor do disco em segundo na ordem de trilhas, é porque existe mais coisa boa na sequência. "Two Kinds Of Happiness" segue a pegada "início dos 80's", com um Julian Casablancas caprichando na emoção vocal. A propósito, taí algo legal no disco: Casablancas parecia inseguro nos dois plays iniciais e não registrou nenhum vocal sem filtro. Até hoje não é dado à variações vocais, mas desde o sensacional First Impressions Of Earth, limitou os truques de estúdio e consegue usar o natural com criatividade. Ok, às vezes ainda usa um filtro, um efeito inofensivo, ou simplesmente acompanha o riff, como na eletro-rock bacanuda "Taken For A Fool". Em "Gratisfaction", a batera do Fabrizio Moretti ajuda no refrão Beatle. Batera não-virtuose bacana esse Moretti...  Fecha o play a bela "Life Is Simple In The Moonlight". Yep.

A cerveja só esquenta quando os messias do rock querem fugir do be-a-bá com eletronices excessivas ("Games"), ensaiam reggae de playboy ("Machu Picchu") e mandam uma bossa nova sem vergonha ("Call Me Back"). Eles devem ter escrito essa para ficar bem claro que nunca salvarão a bossa nova.

NOTA: B 

terça-feira, 10 de maio de 2011

VICIO FRENÉTICO, de Werner Herzog

"Bad Lieutenant: Port Of Call New Orleans" - EUA - 2009 - Policial - 121min. Roteiro de William M. Finkelstein. Com Nicolas Cage, Val Kilmer, Eva Mendes, Xzibit, Brad Dourif, Michael Shannon, Jennifer Coolidge, Fairuza Balk, Tom Bower.

Enquanto assistia Vicio Frenético, o filme O Troco, aquele com Mel Gibson, me veio à lembrança. Não que sejam de fato parecidos, tampouco existe similaridade física ou psicológica entre os dois protagonistas, mas a estrutura do filme, na qual quase não existe cena sem o personagem principal ou arcos paralelos, é idêntica. Também é similar a forma como o personagem parece estar de afundando em encrencas sem solução. Ok, o filme de Gibson não tem o senso de humor de Vício Frenético e Porter nem de longe é tão problemático quanto Terence McDonagh.

É legal ver Nicolas Cage no modo "Academy Award nominee" ao invés do sonolento ator de bobagens como Perigo em Bangkok. O personagem é trágico e engraçado ao mesmo tempo: com dores crônicas na coluna, o cara é viciado em analgésicos e toda sorte de droga ilegal que existe. Cage compõe o personagem com um dos ombros levemente mais alto que o outro e caminha vagarosamente, demonstrando a dor que sente e ganhando a simpatia da audiência. Recém promovido à tenente de polícia, precisa solucionar o homicídio de uma família de africanos em Nova Orleans, na época do furacão Katrina.

O filme apresenta personagens bizarros; Val Kilmer aparece em cena apenas para mostrar que seu personagem é mais calhorda que o protagonista; Eva Mendes está mais bonita que de costume, mas também não tem muito a fazer no filme além de colocar McDonagh em mais encrenca.

O bacana aqui é acompanhar o protagonista e seus métodos politicamente incorretos de investigação (em uma cena hilária, McDonagh tortura duas velhinhas em um asilo para obter informações), e o tom menos pesado impresso pelo veterano cineasta Werner Herzog, que optou por um final pouco realista, mas eficiente e sem pontas soltas.

NOTA: B