terça-feira, 28 de dezembro de 2010

2011 e o Ocaso do Tempo


Acho que não existe.

O Tempo.

É um desses deuses pagãos inventados pelo escritor sem rosto.

Senão, o que seria?

Segundo a física, podemos dizer que é a volta que o planeta dá em seu próprio eixo, da aurora ao crepúsculo.

Ou a contagem de “estações do ano”, com proximidade ou afastamento entre a terra e o sol.

Com base nessas teorias, minha gradativa degradação física e mental é amparada na quantidade de “invernos” que testemunho.

Embora mesmerizado pelo dogma temporal e suas consequências, não consigo aceitar tão facilmente. Há conflitos.

Creio que nosso processo de envelhecimento é causado pela utilização constante da máquina, e não pelo contar de estações.

Alguém inventou isso de “tempo”, porque precisava de uma agenda. Precisava saber quando dormir e quando acordar, quebrar a naturalidade, cercear o instinto. Por causa dele, não se dorme quando tem sono, nem se acorda quando o corpo está descansado. A invenção do tempo nos adestrou a todos; o condicionamento te leva a deitar as onze, a obrigação te acorda às seis. Precisava determinar em que idade casar, quando ter filhos, quando deixar de usar roupa curta. Quando morrer.

É convencional, como tudo que nos cerca desde as cruzadas.

Pressa, rancor, sentimento de derrota, aprendizado ineficiente, alimentação ruim, serviços mal feitos, competição predatória, perda de boas oportunidades e grandes amores, nostalgia nociva, limitação do livre arbítrio. São exemplos do efeito maléfico do tempo sobre as pessoas e seus critérios.

Isso me faz lembrar que em poucos dias - segundo a física – mais um movimento de translação estará completo e adentraremos outro ano, 2011.

É hora de pensar que o tempo dogmático não passa de números em um calendário.

Que tudo passa, e independe de contagens. Portanto, nunca é cedo ou tarde demais para conjugar os verbos fazer, ter, sentir.

Que ouvir uma música e lembrar de um momento ou sentir um perfume e lembrar de alguém são os benefícios da memória, o melhor medidor cronológico que existe.

Hora de lembrar que o sentimento não envelhece.

Sim, a tristeza profunda ou a alegria esfuziante possuem o mesmo sabor aos 10 e aos 80.

As paixões humanas sempre causarão o mesmo desatino sensorial, independente da quantidade de estações vividas.

Um beijo carinhoso e um abraço sincero causam sensações boas em qualquer idade.

E existem locais no planeta onde não há aurora. Ou crepúsculo.

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