A obra de arte mais instigante é aquela na qual a interpretação cabe à quem olha, independente da idéia original do artista. E o artista mais completo é o que permite à visão do seu público o complemento da idéia inicial. Christopher Nolan é um artista, desses singulares que forjam obras de arte em sua profissão, como Amnésia, Insônia, O Grande Truque e, putz, O Cavaleiro das Trevas. Em todas essas realizações, seus protagonistas encaram dilemas morais. Em nenhum deles, a conclusão é imposta por Nolan.
Não poderia ser diferente no excepcional A Origem, onde um enredo básico de "filme sobre roubo" se torna uma verdadeira epopéia pela mente do protagonista - para ser mais preciso, pelo subconsciente, a área inatingível e incontrolável onde é armazenada a matéria dos sonhos.
A trama: Dom Cobb (DiCaprio, em mais uma grande atuação) é o líder de uma equipe que rouba informações do subconsciente alheio, mediante pomposos honorários. É a velha espionagem corporativa, versão Matrix. Afastado dos EUA e dos seus filhos por motivo que ninguém no mundo deve revelar a quem não viu o filme, Cobb aceita uma encomenda um pouco mais complexa: plantar uma idéia na mente de outrem (a tal Inception do título original), para receber o direito de retornar aos seus pequenos. Junta-se ao quadro a consciência de Cobb, em frangalhos por causa de uma tragédia pessoal - nada clichê, diga-se de passagem, pois se mostra essencial à rica narrativa que será apresentada - e os contratempos da própria tarefa. Falar mais que isso é canalhice.
Me impressiona muito a destreza de Nolan em dar importância a cada um dos personagens que farão o filme rodar. Ele lota a tela com eles, concede papéis importantíssimos a cada um e todos são essenciais para que o roteiro atinja seu objetivo (lembra do Bruce Wayne, Batman, Duas-Caras, Coringa, Comissário Gordon?). Em A Origem, todo mundo em cena é primordial. Inclusive Michael Caine, que fez pouco mais que uma ponta no filme. A escolha dos atores é outra prova do talento de Nolan. Leo DiCaprio, Ellen Page (nossos olhos e ouvidos no filme, é a "arquiteta" dos sonhos, chamada não por acaso de Ariadne), Tom Hardy (duvido que sua carreira fique na mesma daqui pra frente), Joseph Gordon-Levitt (grande ator em papel mais físico que o habitual), Marion Cotillard (tire os olhos da tela se conseguir), Ken Watanabe (excelente), Cillian Murphy (no ponto) e até o monstro Tom Berenger. Atualmente, não consigo traçar paralelos ao trabalho de Nolan nesse aspecto.
Todo o filme se passa no subconsciente alheio, e toda a ação está sujeita a este ambiente. Isso dá a liberdade que o todo diretor "sonha", correto? Mas este realizador não se limita ao óbvio. Não investe nos clichês dos sonhos ou pesadelos. Cria um verdadeiro mundo paralelo, tumultuado pela história do protagonista. Jogue uma pedra no lago...
Christopher Nolan é um realizador brilhante. E todos os seus filmes são brilhantes. Mas neste, em particular, ele entrou para o hall dos grandes artistas: aquele que leva o mesmo visitante pela segunda vez à exposição para confirmar se teve a impressão certa sobre obra à primeira vista.
Neste caso, amigo, talvez uma terceira visita seja necessária.
NOTA: A+
Não poderia ser diferente no excepcional A Origem, onde um enredo básico de "filme sobre roubo" se torna uma verdadeira epopéia pela mente do protagonista - para ser mais preciso, pelo subconsciente, a área inatingível e incontrolável onde é armazenada a matéria dos sonhos.
A trama: Dom Cobb (DiCaprio, em mais uma grande atuação) é o líder de uma equipe que rouba informações do subconsciente alheio, mediante pomposos honorários. É a velha espionagem corporativa, versão Matrix. Afastado dos EUA e dos seus filhos por motivo que ninguém no mundo deve revelar a quem não viu o filme, Cobb aceita uma encomenda um pouco mais complexa: plantar uma idéia na mente de outrem (a tal Inception do título original), para receber o direito de retornar aos seus pequenos. Junta-se ao quadro a consciência de Cobb, em frangalhos por causa de uma tragédia pessoal - nada clichê, diga-se de passagem, pois se mostra essencial à rica narrativa que será apresentada - e os contratempos da própria tarefa. Falar mais que isso é canalhice.
Me impressiona muito a destreza de Nolan em dar importância a cada um dos personagens que farão o filme rodar. Ele lota a tela com eles, concede papéis importantíssimos a cada um e todos são essenciais para que o roteiro atinja seu objetivo (lembra do Bruce Wayne, Batman, Duas-Caras, Coringa, Comissário Gordon?). Em A Origem, todo mundo em cena é primordial. Inclusive Michael Caine, que fez pouco mais que uma ponta no filme. A escolha dos atores é outra prova do talento de Nolan. Leo DiCaprio, Ellen Page (nossos olhos e ouvidos no filme, é a "arquiteta" dos sonhos, chamada não por acaso de Ariadne), Tom Hardy (duvido que sua carreira fique na mesma daqui pra frente), Joseph Gordon-Levitt (grande ator em papel mais físico que o habitual), Marion Cotillard (tire os olhos da tela se conseguir), Ken Watanabe (excelente), Cillian Murphy (no ponto) e até o monstro Tom Berenger. Atualmente, não consigo traçar paralelos ao trabalho de Nolan nesse aspecto.
Todo o filme se passa no subconsciente alheio, e toda a ação está sujeita a este ambiente. Isso dá a liberdade que o todo diretor "sonha", correto? Mas este realizador não se limita ao óbvio. Não investe nos clichês dos sonhos ou pesadelos. Cria um verdadeiro mundo paralelo, tumultuado pela história do protagonista. Jogue uma pedra no lago...
Christopher Nolan é um realizador brilhante. E todos os seus filmes são brilhantes. Mas neste, em particular, ele entrou para o hall dos grandes artistas: aquele que leva o mesmo visitante pela segunda vez à exposição para confirmar se teve a impressão certa sobre obra à primeira vista.
Neste caso, amigo, talvez uma terceira visita seja necessária.
NOTA: A+
Esta na hora do Oscar reconhecer a competência deste grande diretor, não acha?
ResponderExcluirCertamente "A Origem" será muito lembrado no próximo Oscar, amigo. E nem coloquei no post, mas o filme tem cenas maravilhosas. Uma, em especial, quando o personagem Arthur (Levitt) precisa mover seus amigos dorminhocos, todos ao mesmo tempo,em gravidade zero. Lindo. Pena que, no mundo pós-"Matrix" e "Avatar", é difícil que o apelo visual tenha o impacto que se espera.
ResponderExcluir