quarta-feira, 7 de abril de 2010

TÁ RINDO DO QUÊ?, de Judd Apatow ("Funny People", EUA - 2009 - drama/comédia - 146min). Roteiro: Judd Apatow. Com Adam Sandler, Seth Rogen, Leslie Mann, Eric Bana, Jonah Hill, Jason Schwartzman.

Sou condescendente com Adam Sandler. Confesso. Para apreciar os filmes do comediante, é preciso uma boa dose de condescendência. O estilo de Sandler é do “cômico bravo”, aquele que aposta no humor negro, no sarcasmo, na ironia e, vejam vocês, na raiva. É um comediante raivoso, mesmo quando o filme pretende ser leve. Essa raiva vem aumentando consideravelmente a cada filme, e nota-se também uma procura pelo drama (quem está lendo esse post assistiu Click ou Como se Fosse a Primeira Vez?). Pois bem: neste Tá Rindo do Quê? (título brasileiro idiota para o irônico e bem sacado Funny People) Sandler vive um comediante rico e famoso que se descobre com um tipo raro de leucemia. À beira do morte, o cara transfere toda a amargura para suas apresentações de "stand up comedy" e para suas relações pessoais. E, se em alguns filmes é possível rir com Adam Sandler, em Funny People isso é impossível, mesmo na companhia da sensação Seth Rogen, também em atuação desequilibrada. Judd Apatow, o diretor das comédias “sérias” e longas demais (seus filmes não tem menos de 2 horas de duração – quem está lendo esse post assistiu aos ótimos O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos?) exagerou na dose e não acertou em alvo algum; o filme não é triste a ponto de comover e não é engraçado a ponto de fazer rir. É um meio-termo macabro que não sai do lugar, nada acontece. É impossível não compará-lo com os dois longas citados, perfeitamente equilibrados entre comédia, romance e drama.

Só não dou uma nota “E” bem vermelha para o longa porque Apatow teve a manha de jogar na tela uma ironia cáustica, inerente à vida: a funny people do filme, composta por comediantes profissionais especializados no improv apreciado por platéias americanas, é uma gente mesquinha, mentirosa, melancólica e pobre de espírito. O americano gosta mesmo de rir das suas desgraças.

NOTA: D-

domingo, 4 de abril de 2010

CÓDIGO DE CONDUTA, de F. Gary Gray ("Law Abiding Citizen", EUA, 2009 - ação - 108min). Roteiro: Kurt Wimmer. Com Jamie Foxx, Gerard Butler, Colm Meaney, Michael Irby, Leslie Bibb, Regina Hall, Bruce McGill, Viola Davis.


Quando vi o trailer deste filme, fiquei muito curioso com a premissa: Clyde Shelton (Gerard Butler) tem mulher e filha assassinadas brutalmente, na sua presença, por uma dupla de assaltantes. O promotor público Nick Rice (Jamie Foxx) faz um acordo com o mais brutal da dupla: ele testemunha contra seu parceiro – que vai à câmara de gás – e tem sua pena reduzida. Com o acordo, o malaco cumpre apenas 3 anos e sai livre. Clyde, então, começa uma cruzada solitária – e violenta – para “punir” quem ele considera culpado e, principalmente, expor as falhas do sistema judiciário americano. Mais um filme comum sobre vingança, certo? Felizmente não: preso, Clyde faz todo o estrago aparentemente sozinho. Como?

Apesar de ultrapassar a linha tênue da verossimilhança (comum neste tipo de produção), F.Gary Gray consegue construir um filme tenso e sem maniqueísmo, e é competente ao colocar dois grandes atores em choque por dilemas morais. Já fez isso em A Negociação, onde Samuel L. Jackson e Kevin Spacey encarnam os personagens cinzentos. Em Código de Conduta, é difícil até saber para quem torcer. Parece que o “mocinho” é Foxx, porém, os mais cínicos tendem a enveredar pela justiça de Butler. Isso é o que torna o filme bacana, o caráter dúbio dos antagonistas e a forma como a trama é conduzida, sem tomar partido. Até velhos clichês são utilizados para dimensionar os personagens: a ausência de Foxx em sua família demonstra que sucesso profissional é sua prioridade. Portanto, o acordo virulento com o bandido jamais soa inverossímil ou exagerado. Falando em clichês, eu dispensaria o personagem misterioso que aparece apenas para dizer o quão perigoso Clyde Shelton é: àquela altura, tanto a platéia quanto o promotor Rice já estavam devidamente convencidos da periculosidade de Shelton.

Embora esperasse maior ousadia no ato final por tudo que o filme tinha apresentado até então, não fiquei totalmente insatisfeito, porque seja como for, a lição proposta pela trama foi aplicada: quando se trata de justiça, os culpados devem ser punidos, independente do que está escrito nos livros – ou de aspirações pessoais.

NOTA: B